Desejo e Necessidade: duplinha difícil…

Depois do Natal e agora nas férias tenho pensado numa dupla: a Necessidade e o Desejo. Qual a diferença e o papel de cada um? Será que temos que atender a todos os pedidos? Será realmente esta a nossa função, a de satisfazer todos os desejos e necessidades?

Primeiramente acho que seria interessante pensarmos sobre a diferença entre necessidade e desejo. Basicamente a necessidade está ligada ao que precisamos para sobreviver. Não esta ligada diretamente a um prazer. Como já diz a própria palavra – necessidade – aquilo que não conseguiríamos viver sem. Já o desejo estaria ligado a um prazer, saindo assim do grupo da necessidade. Passaria da fome em si para a vontade de comer um belo espaguetti carbonara. Outra diferença importante entre o grupo do desejo e o da necessidade, é que o primeiro pode ser atendido quando pensamos e falamos sobre ele. Podemos satisfazer o desejo de forma imaginária.

Mais do que atender prontamente e concretamente os desejos, o que se precisa fazer com nossos filhos é conversar sobre o seu desejo. Assim temos a oportunidade de abrir um universo de palavras, representações, de expressões, linguagem, vocabulário, promessas de prazeres, de esperança. O desejo precisa ser acolhido, legitimado, justificado e pode também não ser atendido. Ir contra a um desejo não é necessariamente um trauma para a criança. Ajudamos quando reconhecemos o desejo, não rindo ou desvalorizando. Justificando, indo contra, não satisfazendo, mas explicando a razão, seja ela qual for, porque está sem dinheiro e por isso não podemos comprar o brinquedo ou viajar, porque não concorda pois acha perigoso, porque ele já tem algo parecido, enfim, o importante está em justificar o desejo não satisfeito. Falar dele. Até porque existem desejos que realmente são para serem vividos somente na fantasia, na imaginação, e não para se tornarem realidade.

Em muitos momentos ficamos tentados a dar logo o que querem para que sosseguem, evitando assim também o nosso desconforto. O perigo está em colocarmos o desejo no nível da necessidade e desta forma a criança nunca se sentir satisfeita e sempre buscar satisfazer seus desejos pelo imperativo da necessidade, pois entendeu que assim eles podem ser satisfeitos. Vira uma busca sem fim pela satisfação imediata, uma busca empobrecida de satisfação do desejo para se livrar da angústia, sem o recurso da linguagem, da representação e assim desligada da cultura. Cultura representada pela linguagem, pela capacidade de representação ou de fabricação daquilo que não se tem, do uso da criatividade, da imaginação.

A criatividade e a inventividade são movidas pelo desejo. Podemos observar que quando não tem o que quer, a criança pode ser capaz, com a ajuda dessas ferramentas, de transformar uma caixa qualquer em um carrinho ou uma garrafa pet em um foguete. O desejo nos movimenta. É pelo desejo, com a criatividade, inventividade e curiosidade que conseguimos chegar a lugares antes impossíveis.

Nossa função então está em satisfazer sim as necessidades, porque senão se morreria, e mais do que satisfazer o desejo, falar sobre ele. Falando do desejo estaremos dando condições para que nossos filhos depois consigam satisfaze-lo sozinho, pois vão ter recebido as ferramentas necessárias para isso, com pais que não deixaram de considerar também os seus próprios desejos e que reconheceram a importância e o lugar dele. Entendendo que quando uma criança pede alguma coisa, quando ela quer alguma coisa, ela não deseja somente a coisa em si, quer principalmente falar sobre ela.

 

 

Imagem: eyeliam

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1 Comment

  1. Sabio
    25 de junho de 2013 at 23:57 — Responder

    Um coração egoista transforma desejos em necessidades…

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