Sou caçula e temporã, filha de uma típica mãe helicóptero – naquele tempo essa expressão nem existia, hoje em dia ela é usada para descrever as mães (e pais) que estão sempre rodeando e pairando sobre os filhos (daí o termo), pensando e agindo por eles, se preocupando em resolver todas as suas questões, antecipando os problemas e garantindo que nada difícil vá acontecer.
Minha mãe cuidava dos meus estudos e desempenho escolar, queria saber onde eu estava e com quem, podava amizades e nunca me deixou dormir na casa de uma coleguinha. Cresci em um mundo meio bolha, poupada de tudo. Ela me regia com mãos de ferro e me vigiava 24 horas por dia, mas nem por isso conseguiu evitar que eu ralasse o joelho quando caí de uma árvore, nem que eu abrisse um buraco na testa em um tombo dentro de casa ou que meu dedo sangrando doesse menos depois que o cachorro do vizinho o abocanhou.
Quando fiquei grávida do Adam, tinha muito medo de ser uma mãe super protetora como a minha foi, pois aquilo tinha sido uma fonte de inseguranças até a idade adulta. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia ser diferente. Como não querer proteger aquele pequeno ser indefeso no colo todo o tempo?
Dizem que entendemos melhor nossas maēs no dia em que nos tornamos uma. Verdade. Consegui me colocar um pouco no lugar dela e sentir quão frágil a maternidade nos deixa.
Nessa fase, ainda perdida, a madrasta do meu marido veio com o meu sogro nos visitar. Adam era o primeiro neto. Eu estava há menos de uma semana no “cargo” de mãe e me recusei a sair para jantar no restaurante da esquina ou tomar café na padaria. Não queria deixar o meu filho um minuto sequer e achava o fato bem razoável (ainda acho).
Um dia, à mesa durante o jantar, ela me disse nunca ter visto um bebê vigiado 24 horas por dia como meu filho. Naquele momento, cheia de hormônios e baby blues, me senti mal. Será que estava falhando? Não era uma boa mãe? Estaria eu superprotegendo o meu filho como minha mãe me superprotegia?
Respirei fundo e aos poucos me acalmei. Precisava entender o momento em que eu me encontrava: havia perdido um bebê e minha mãe no ano anterior. Estava frágil, saindo de perdas profundas, tudo o que eu temia era que alguma coisa acontecesse com o meu filho. Era normal eu me sentir assim. Além de tudo, Adam era meu primeiro filho, e mesmo que nada disso tivesse acontecido, que mãe nunca entrou no quarto no meio da noite para verificar se o bebê continuava respirando?
Algum tempo passou, confesso que demorou, mas consegui finalmente fazer as pazes comigo mesma, com a minha mãe e com a minha sogra – que nasceu e foi criada em um outro país, com uma cultura bastante diferente da nossa. Sendo mães, elas também fizeram o melhor que podiam, cada uma com seu jeito, e o maior erro seria eu tentar replicar os modelos extremos de como ser mãe. Eu precisava encontrar a minha maneira de maternar, de ser a melhor mãe possível para o meu filho.
Hoje Adam tem quase 4 anos. Minha casa tem telas na janela, portão na escada e tranco a porta da cozinha depois que todos vão dormir. Eu ainda o vigio pela babá eletrônica – seja no sono, quando o deixo brincando sozinho na sala ou no quarto. Sinto um frio na barriga só de pensar que um dia ele vai atravessar a rua sozinho. É mais forte do que eu o querer saber o que está acontecendo. Mas o tanto que o vigio, me vigio duas vezes mais para não exagerar na dose.
Na minha tentativa de não ser uma mãe helicóptero como minha mãe foi, já “deixei” que meu filho ralasse joelho e barriga, engolisse água da piscina e do mar, sem falar nos 3 pontos na cabeça, alguns roxos e um sorriso persistentemente sapeca no rosto. Meu exercício diário é tentar fazer com que ele colecione suas vitórias e derrotas, e saiba que estarei sempre lá, seja para aconselhá-lo, limpar as feridas e dar beijos no dodói. Viver é mesmo arriscado, mas o pior é não viver.
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1 Comment
Adorei o texto, passei por algumas das mesmas questões que você nos primeiros meses de maternidade e também só entendi minha mãe depois que passei a ser uma também. É incrível como achamos inocentemente que podemos proteger nossos filhos de tudo e confesso que é uma difícil tarefa essa de cair na real.