Vantagens e desvantagens de ser mãe depois dos 40

Há algumas semanas atrás, enquanto trabalhava de pé em uma feira de livros, com a minha lombar gritando e meus pés exaustos, Vicky me pediu colo. Eu, que adoro dar colo pra minha miudeza, só consegui olhar pra pequena criatura que já está batendo na minha cintura e dizer: “Filha, não dá, mamãe está velha”. Ela deu uma  gargalhada sem entender exatamente quais as implicações dessa constatação e saiu correndo. Eu, claro, não corri atrás.

Enquanto fiquei sentada contemplando quantas horas eu ainda teria que trabalhar naquele final de semana e o tamanho da energia da Victoria naquele dia, me dei conta que eu tenho 41 anos, ela tem 4 anos e que nossa energia caminha para direções contrárias. E, tal qual uma velha coroca, fiquei matutando sobre os prós e contras de ser mãe de uma menininha aos 41 anos.

Por mais magra, sarada e malhada que você seja, sua energia não é mais a mesma dos seus vinte anos. Ainda mais se você tem filhos pequenos. Uma noite mal dormida aos vinte anos você recupera no dia seguinte. Aos trinta anos, demora uns dois ou três dias, mas aos quarenta anos, se você varou uma madrugada trabalhando é certo que você vai precisar de mais uma semana para voltar a ser você mesma. E a criança não quer saber: vai continuar acordando de madrugada, quer você queira ou não queira. E eu lembro bem dessa fase em que era um zumbi ambulante.

Aos quarenta anos, também tenho menos paciência para passar a manhã na pracinha. A cria precisa pegar sol, eu sei, mas volta e meia acaba sendo na varanda de casa ou na portaria mesmo. Pracinha é tipo coisa de feriado!

Acho também que sou uma mãe mais permissiva. Velha ou jovem, está na minha natureza pensar nela, nas suas necessidades, no seu espaço, nas suas vontades. Raramente funciona comigo a frase “vai fazer porque eu estou mandando”. Isso tem seus prós e seus contras e eu já falei sobre isso no meu post Uma mãe sem moral. Também tem o fator preguiça. Quero e preciso dormir uma noite inteira, então por mim vai ficar chupando chupeta, dormindo na minha cama e de fralda até casar.

Por outro lado, acho que ela vai ter uma mãe mais preocupada. Acredito que mães mais jovens consigam lidar melhor com algumas questões como horário para chegar em casa, dramas próprios da adolescência. Hoje, enquanto estamos vivendo o binômio 4 x 41 anos, o que pega mais é a falta de energia e de paciência. Mas imagino que quando chegarmos na duplinha 15 x 52 anos o conflito de gerações vai finalmente nos pegar. Sabe-se lá o que vai ser moda em 2025 entre os jovens.

Ainda pensei em outras questões que, claro, são particulares, mas que acontecem com frequência em famílias com mães mais velhas. Vicky será filha única. Não tanto por vontade, mas pelas circunstâncias. Aos 41 anos e separada do pai dela, a chance de ter mais um bebê caiu drasticamente. A maioria das minhas amigas que tiveram filhos após os 35 anos não quer partir pra uma segunda produção. Os motivos são inúmeros: se sentem plenas apenas com um filho; motivos financeiros; medo de uma segunda gravidez de risco, não querem encarar tudo de novo (gestação, bebês pequenos, noites sem dormir etc.).

Mas nem tudo é difícil. Existem vantagens, juro. Victoria tem uma mãe mais atenta com o que ela come. Eu venho lidando há muito tempo com o meu peso e prometi pra mim mesma que minha filha teria uma alimentação adequada. Diariamente eu presto atenção no que vai ao prato dela e fico ligada no que ela está interessada ou não em comer. Se extrapolamos num dia, no outro sou mais linha dura. Ela come direito, mas sem neurose.

O que eu não consigo compensar em termos de energia física eu compenso com jogos de tabuleiro, atividades artísticas, muita leitura e estímulo mental. O resultado no presente é uma menininha madura, com habilidades manuais, louca por livros, arte e muito concentrada. E com um bocado de independência e autonomia também. No futuro, o céu é o limite. Tomara!

Acho que pesando os prós e os contras, fiz a escolha correta em não apressar a maternidade. Sinto que a Vicky se beneficia de uma vida com mais estrutura financeira, menos sufoco e de uma mãe mais madura emocionalmente. Já realizei muitos dos meus sonhos, tenho uma carreira estável, sou feliz com a maioria das escolhas que fiz na minha vida. Claro que nada é perfeito, mas é mais fácil maternar quando a mente está no lugar. Não que eu acerte sempre, pelo contrário, mas mesmo nos erros eu consigo (ou tento, pelo menos) ter a maturidade e a tranquilidade de achar de novo o caminho certo pra nós duas.

 

Imagem destacada: Haylee Sherwood

 

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25 Comentários

  1. 2 de setembro de 2014 at 9:50 — Responder

    Adorei o texto, me identifiquei um bocado… eu com 31 já sou uma semi-idosa… aiaiai

    • Camila
      2 de setembro de 2014 at 10:39 — Responder

      Janice não pensa assim, senão na próxima década você vai estar de bengala! Hahahaha beijo

  2. Marcela
    2 de setembro de 2014 at 11:12 — Responder

    Amei o texto Camila! Parece que foi escrito pra mim! Meu pequeno tem 1 ano e 3 meses e eu farei 40 em janeiro. Assim como você, estou tentando compensar a disposição física com muita leitura e jogos lúdicos, acho que tem dado certo por enquanto.. Beijos!

    • Camila
      2 de setembro de 2014 at 15:14 — Responder

      E haja ginástica, Marcela. Há um ano passei a me exercitar regularmente e realmente fez toda a diferença. Estou bem mais disposta! Beijoca

  3. Ana Raquel
    2 de setembro de 2014 at 12:08 — Responder

    Camila, estou com 43 anos e não me sinto assim, talvez por que a Valentina dorme a noite toda desde os três meses. Também tenho muito mais paciência que minhas irmãs mais jovens. O que acontece comigo é de manhã, quando tenho que deixá-la na escolinha e chegar no meu trabalho as 8h em ponto e não posso atrasar. Ai fico meio estressada, mas não com ela. A tarde geralmente eu compenso, ela está começando a andar e fica apontando para tudo e falando a linguinha dela, e eu pacientemente ficou vendo e ouvindo. Acho que tenho sim mais paciência. Bjs

    • Camila
      2 de setembro de 2014 at 15:13 — Responder

      Oi Ana Raquel, eu acho que cada uma de nós é de uma maneira. Eu quase tive um troço nos primeiros anos da Vicky. Ela passou a dormir uma noite inteira há 1 ano. E mesmo assim, ela só dorme comigo. Na cama dela, ela fica me catando, não me acha e acorda etc. Enfim… são momentos dramáticos. Paciência para interagir eu também tenho e adoro. Mas a energia física eu te confesso que me cansa um pouco. Tipo aprontar, você querer que ela entre no banho e ela sai correndo pela casa no melhor estilo “esconde-esconde”. Tenho pouca paciência para teimosia. E aos 4 anos, pobre de mim, né? Haja Yoga, meditação e Pilates. Hahaha. Beijo

  4. Andréa Soares
    3 de setembro de 2014 at 15:02 — Responder

    Oi Camila,
    Estou me vendo na mesma situação, tenho 38 e meu primeiro (e acho que único) filho, o João Victor, está para nascer no dia 20/set. Também não terei a mesma disposição física das mães de 20 e poucos, mas com certeza compensarei em outras áreas 🙂 Beijos e parabéns pela matéria!

    • Camila
      3 de setembro de 2014 at 18:09 — Responder

      Andréa, pensa pelo lado bom. Você não vai parir no verão, coisa que seria o fim do mundo pra mim! Hahahaha. Vicky nasceu em agosto, então foi ótimo e até dirigindo eu fui pra maternidade. Boa hora pra você e ache um tempinho pra contar as novidades. Estamos do seu lado viu? Beijo

  5. Maria Falcão
    3 de setembro de 2014 at 15:49 — Responder

    Camila, tenho 39 anos, estou com 09 semana de gestação e espero ter este pique todo… Só o desânimo da gravidez etá me matando kkkkkkkkkkk, mais , se Deus permitir, irei realizar meu sonho.
    Bjs em vc e em Vick!

    • Camila
      3 de setembro de 2014 at 18:08 — Responder

      Eu voltei pra academia. Malho feito uma doida pra perder peso e ter mais energia. Está adiantando. Na gravidez mesmo, fiz Pilates até a semana do nascimento dela. A gente agradece os beijos e manda outros pra você e sua barriga!

  6. Flavia Dacima
    3 de setembro de 2014 at 16:48 — Responder

    Adorei vivo exact amente isso

    • Camila
      3 de setembro de 2014 at 18:07 — Responder

      Flavia, eu acho que apesar do cansaço até rejuvenesce um pouco, pois voltamos a curtir (ou tolerar) coisas que há mto já tinham desaparecido do nosso universo, né?

  7. Rita Bovo
    3 de setembro de 2014 at 17:41 — Responder

    Tenho 45 anos e estou de 15 semanas. Acho que tem razão em alguns aspectos. Estamos realizando um sonho. Mei marido tem 52 anos. Boa sorte para nos2 todas! Bjks!!!

    • Camila
      3 de setembro de 2014 at 18:06 — Responder

      Rita e apesar de todas as piadas, é a coisa mais linda que me aconteceu no momento mais conturbado da minha vida. Ela é tudo e somos grudadas!

  8. Rita Bovo
    3 de setembro de 2014 at 17:44 — Responder

    Obrigada pelas dicas. Estou de 15 semanas e tenho 45 anos. Que Deus nos ajude.

    • Camila
      3 de setembro de 2014 at 18:05 — Responder

      Hahahaha Rita, você é uma animada! Boa sorte e invista em um círculo de ajudas extras (irmã, mãe, pai, amigos. abusa da galera!) Beijoca e parabéns por essa benção!

  9. Sandra
    3 de setembro de 2014 at 18:16 — Responder

    Eu com 36 e um bebe de quatro meses fico me imaginando correndo atras de um menino daki mais ou menos um ano. Hahahahaha!!! Loucura!!! Mas que loucura maravilhosa!!!

  10. Kessia Perin
    3 de setembro de 2014 at 19:30 — Responder

    Oi Camila, adorei teu texto e ri bastante pq me identico muito com ele…rsrs
    Moro na Italia a 6 anos e acabei de fazer 40 anos na maternidade. Tenho uma gatinha de 2 anos e meio e um gatinho de 2 meses.
    Ter uma babá ou diarista aqui é artigo de luxo, e a casa vive cheia de coisas pra fazer o que me deixa mais cansada ainda.
    Mas apesar de tudo isso, acordo todos os dias grata a Deus pela oportunidade e privilégio de ser mãe deles…sem dúvida é a tarefa mais dificil do mundo, mas tb a mas especial.
    Bjoss querida pra vc e sua pequena.

  11. Regiane
    3 de setembro de 2014 at 21:20 — Responder

    Parabens!
    E obrigada pela dica.

    • Camila
      4 de setembro de 2014 at 13:44 — Responder

      Regiane, obrigada 🙂

  12. Patricia
    3 de setembro de 2014 at 22:19 — Responder

    Conheço os dois lados, fui mãe aos 18 anos e depois os 37 e hoje estou com 35 semanas de gestação. A disposição não é a mesma, mas me sinto renovada e mais jovem com os pequenos por perto.

    • Camila
      4 de setembro de 2014 at 13:43 — Responder

      Patricia, tem isso. Eles realmente têm esse poder de fazer a gente se divertir tudo de novo com um jogo de Cara a Cara.

  13. Renata Mosic
    4 de setembro de 2014 at 10:21 — Responder

    Eu com 37 e fazendo tratamento para engravidar fico pensando se não é melhor pensar em viajar loucamente todo ano do que ter um filho(a).
    Lendo seus comentários, e tb por já ter pensando muito nisso, não sei o que faço.
    E qto mais penso, mais o tempo passa, e mais a dúvida aumenta.

    🙁

    • Camila
      4 de setembro de 2014 at 14:03 — Responder

      Eu acho que dá pra fazer tudo. Ter o bebê e viajar com ele. Lembro que eu estava tentando e não conseguia engravidar e ficava colocando todo tipo de obstáculo na minha cabeça, todo tipo de ideia como essa sua. “viajo ou tenho um filho”. A verdade é que era tudo um mecanismo de defesa porque a possibilidade de não conseguir engravidar, independente da minha vontade era muito real. Quando engravidei da Vicky e deu tudo certo eu vi o quanto, no fundo, minha vida não teria sentido se ela não existisse. Vicky nasceu quando eu tinha 37 anos. E hoje, aos 41, me ressinto de que a oportunidade de ter outro filho hoje é quase nula pra mim. Viu? Aos 41 eu ainda não joguei a toalha. Por isso fique calma, reflita, procure ajuda profissional se você achar que vai te ajudar mais. Mas ter filho não é em absoluto um impeditivo pra se fazer nada. Sim você vai viajar menos, vai, provavelmente, deixar de visitar invernos rigorosos por um tempo, vai carregar mais tranqueira, vai ter que se organizar mais. Mas vai continuar vivendo igual. Beijo e sorte.

  14. Elaine
    7 de setembro de 2014 at 0:50 — Responder

    Adorei o texto, vou fazer 42 anos em novembro e tenho uma princesa de 4 anos, Maria Cecíla, apesar de já ter uma de 14 anos.
    Muitas preocupações, mas a maturidade me trouxe uma forma ímpar de amar .

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