Meu filho brinca de boneca

Conversando com uma amiga querida sobre escola, ela me contou que na última reunião da sala da turma do filho dela em uma escola super cabeça feita (achava ela) aqui do Rio de Janeiro, alguns pais acharam absurdo os filhos homens levarem a boneca (Emília) que eles mesmo confeccionaram na escola para passar o final de semana em suas casas, com a missão de preencher em um caderno comunitário como foram os dias juntos. Na creche do Adam, quando ele era menor, tivemos a mesma atividade e a “Laurinha” (nome escolhido pela turma) foi passear em todas as casas. Não me lembro de nenhum pai reclamando. O fato é que um dos pais de um aluno da escola do filho dessa minha amiga criticou a atividade escolar, argumentando que não queria que estimulassem seu filho (um menino de 4 anos) a brincar de bonecas, que isso era coisa de menina e para os meninos era uma coisa “meio gay”. Oi??? Minha amiga de bate e pronto respondeu que se era assim que ele via e sabendo de tudo o que acontece no mundo atualmente, crianças e adolescentes sendo espancados ou acabando com suas próprias vidas, se não ensinarmos nossos filhos a aceitarem o diferente e expulsar o preconceito de nossas casas, ele poderia escolher se o filho dele seria o “gay” que iria apanhar ou o “macho” que iria bater.

Desde que o mundo é mundo existem muitas diferenças entre meninos e meninas no cuidar, no tratar e no ensinar. Menino não fazia tarefas de casa simplesmente porque muitas mães cuidavam da casa e era papel do homem trazer o dinheiro para o lar, algo que ainda acontece. Não adianta a gente querer tapar o sol com a peneira, do mesmo tanto de mulher que ainda está queimando sutiã em praça pública, tem outras odiando quem teve essa ideia. Nessa onda muitos se dizem feministas, mas não entendem o que isso realmente significa.

Aqui em casa o Adam gosta de brincar, e muito. Seu mundo de fantasia é tão vasto que eu me perco nos personagens às vezes. Brincamos de heróis, mas também brincamos de princesas e sapos, de mágico e um outro tanto de faz de conta. O triste é que eu percebo que cada vez mais ele vem lutando com as próprias vontades por simples pressão externa. “Mãe, eu posso gostar da Princesa Sofia?” me perguntou ele um dia, para no outro falar bravo “Isso é coisa de menina!” quando o chamei para assistir um dos nossos desenhos favoritos.

Aadm-jedi

Em um primeiro momento fiquei bem chateada com a escola, com os outros meninos da turma que apontavam o dedo para o menino que gostava de todo e qualquer tipo de desenho, eles são crianças de 4 anos gente, 4 anos!!! A gente percebe que os pais de hoje ainda são os pais de ontem, como se assistir “Power Rangers” e outros desenhos inapropriados para a idade dos pequenos meninos (cheios de violência), fosse garantir a masculinidade de seus filhos… Nadamos contra a corrente e mesmo com toda a força que faço aqui em casa, tenho que regar a semente várias vezes ao dia, dar colo e dizer que tudo bem se ele não quiser mais brincar disso ou daquilo. Meu marido dá uma força extra porque é um marido e pai atuante, não tem essa de ser um “pai que ajuda” aqui em casa não.

Adam ainda se sente inseguro com algumas de suas escolhas, mas posso dizer que sinto orgulho do menino que estamos ajudando a formar. Um menino que brinca de casinha, que coloca a mesa, cuida dos seus amigos e das suas coisas e que com cada exemplo que vê aqui em casa vai se tornando mais auto-confiante.

Semana passada a Flora, amiga do Adam desde os banhos de sol na pracinha, veio brincar aqui em casa, como acontece semanalmente há quase 5 anos. A surpresa ficou por conta de uma nova brincadeira, ganhei uma neta, a Beatriz. Adam é o pai, Flora a mãe e durante toda a fantasia eles derem comida, trocaram fralda, fizeram carinho e o Adam ainda acalmou a Flora quando ao levarem a bebê numa consulta ao pediatra (eu). A bebê chorou após tomar a vacina e ele disse: “Calma, vai ficar tudo bem. É para o bem dela!”

Adam-Flora_familia

Não é para morrer de amor? Para mim, meninos que brincam de boneca serão melhores pais, melhores seres-humanos.

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9 Comentários

  1. Bruna
    29 de setembro de 2015 at 14:06 — Responder

    Perfeito Patrícia! Não consigo entender como muitos pais ainda têm preconceito com as brincadeiras dos filhos (vejo principalmente entre meninos). Em pleno século 21, onde tanto se é falado e debatido sobre o assunto. Educação vem de berço! Crianças têm obrigação de brincar, seja lá do que for! Minha filha mesmo tem uma coleção de carrinhos, gosta tanto quanto se fantasiar de Elsa e dançar como bailarina. Ela tem 2 anos e está descobrindo os super-heróis agora. Super incentivo! Beijos! =)

    • Patricia
      29 de setembro de 2015 at 15:39 — Responder

      Pois é Bruna,

      o preconceito está aí para ser continuamente combatido. São crianças e precisam entender desde cedo que para algumas questões não existe certo ou errado.

      beijos

  2. Greice
    29 de setembro de 2015 at 14:47 — Responder

    Muito bom o post, em casa temos a mesma política, não existe coisas de meninos ou de meninas, existem brinquedos que a gente gosta ou não. Mas uma hora eles começam a trazer isso da rua, da escola, do condomínio, e é difícil de lidar. Vejo que eles ficam confusos com a diferença de abordagem na escola, e em casa por exemplo. Mas sigamos, estou fazendo a minha parte…

    • Patricia
      29 de setembro de 2015 at 15:38 — Responder

      Oi Greice,

      que esse nosso trabalho de formiguinha seja feito em mais casas <3

  3. Leandro Oliveira
    30 de setembro de 2015 at 8:06 — Responder

    Meu nome é Leandro. Estou com 41 anos e fui criado no meio de primas, minha irmã, 10 tias e uma mãe sensacional que fez os dois papéis(mãe e pai).

    Brinquei de boneca, soldadinho, ping-pijng, subi nas árvores, toquei campainha com minhas primas e irmã.
    Cada um participando do universo do outro sem julgar mas simplesmente brincando, criando e se divertindo muito.

    Cedo aprendi a cuidar das minhas coisas pois minha mãe era uma só. Lavei e passei minhas roupas desde os 10 anos, me virei na cozinha pois nem sempre minha mãe estava presente no exato momento que eu queria comer algo específico.

    No quartel fui inúmeras vezes elogiado como o soldado mais organizado, arrumado e limpo, pois eu mesmo vincava minhas calças, fazia bainha, costurava meus distintivos e engraxava meus sapatos fazendo questão que o brilho fosse visto a distância.

    Hoje sou casado com Kelly. Uma mulher maravilhosa que me ensina todos os dias como ser um ser humano ainda melhor.

    Me deu um casal de filhos maravilhosos e mais uma vez a vida me ensina através das duas realidades tão distintas.

    Bernardo é um menino doce e sedutor que brinca de luta e adora futebol mas que também é o tio de todas as bonecas e carinhos que a irmã, faz de sobrinhos para ele viver e participar do universo dela que tem 4 anos a menos que ele.

    Rafaela é um pequeno furacão de 2 anos e 8 meses que faz pose com cara de “monstra”, como ela mesma diz, que tem uma personalidade bastante marcante mas que tem seu jeito de dar carinho de maneira muito especial e que me envolve em suas brincadeiras de cozinha e diz que sou avô de suas bonecas e qualquer pedaço de brinquedo quebrado que ela inclui numa família de pelo menos 8 filhos.

    Como toda e qualquer pessoa tenho muitos pontos de aprimoramento mas nunca deixei de pensar como faço para que o mundo fique melhor não só pra mim mas para que eu possa facilitar para inúmeros seres.

    Temos que apreciar cada momento da nossa existência!!!!!!

    • Patricia
      30 de setembro de 2015 at 9:59 — Responder

      <3 Um beijo enorme para a sua linda família.

  4. Tatiana Lucena
    30 de setembro de 2015 at 10:24 — Responder

    Post maravilhoooooso!
    A luta para criar um filhos nos dias de hoje, onde muitas coisas evoluíram, assim como outras tantas regrediram, não é fácil!
    Mas acredito que se eu, vc e tantas outras mães criarmos nossos filhos para serem pessoas, não gêneros, estaremos deixando uma bela contribuição para o mundo.

  5. Pedro Henrique
    4 de Janeiro de 2017 at 17:50 — Responder

    Sim, meninos, assim como meninas, podem brincar com o que quiser. Eu tenho apenas 13 anos, mas gosto de brincar de bonecas (mas não brinco) e usar rosa. Isso para mim não tem nenhuma relação com a orientação sexual dos meninos e das meninas. Se meu filho gostar de brincar de bonecas, eu vou ficar muito feliz só de saber que ele está satisfeito com o que ele gosta. Se ele for homossexual, vou amar ele do mesmo jeito e vou respeitá-lo como eu gosto de ser respeitado.

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