Amamentar: mesmo quando é fácil, é difícil

Amamentar não foi um mistério e nem um problema pra mim. Mas nem por isso posso dizer que está sendo fácil…

Eu tenho consciência do privilégio que é amamentar meu filho com facilidade. Eu pude me preparar durante a gravidez, quando eu já tinha colostro. Já saímos da maternidade com leite em profusão, bebê mamando e engordando, pega perfeita. E não isso não acontece com todo mundo – você pode ler vários relatos pessoais aqui.

Com menos de um mês de amamentação, já não sentia dor ou incômodo na mama, já tínhamos um ritmo. Desde o início, minha rede de apoio estava de prontidão, para garantir que eu descansasse, comesse bem e bebesse água. Nos adaptamos bem e rapidamente aos métodos e apetrechos (almofada de amamentação por exemplo), até não precisar mais de nada disso. Acho graça até de ficar com um peito maior que o outro.

Por isso, surpreendi todo mundo quando disse: “tenho total empatia por quem desiste de amamentar”. Mesmo quando é fácil, é difícil.

amamentar bebe
eu e Martin

o desgaste emocional de amamentar

Amamentar é prazeroso pois é incrível ser fonte de alimento nutritivo e completo para o bebê. Mas nas primeiras semanas não dá nem pra pensar nisso. O corpo entra em modo automático, que pode ser chamado de “preciso manter esse bebê vivo”.

Você vive para amamentar.

Não tem muito tempo pra fazer outra coisa, mesmo com uma rede de apoio ótima. Nesse momento você ainda não conhece o choro de bebê. E toda vez que ele chorar você vai achar que é fome. Se você achar que pode ser outra coisa, pois ele acabou de mamar, alguém vai dizer que é fome. E isso é muito exaustivo.

A privação de sono chega ao auge nesse momento e as noites são longas, de mamadas seguidas. Os dias se tornam repetitivos, é tudo muito igual e parece que não vai melhorar nunca. Você vira uma mulher composta de sono, fome, sede e cansaço.

Pra completar o desgaste emocional, as primeiras semanas são tomadas pelo stress de estar fazendo tudo certo. Será que meu leite é suficiente? (Spoiler: quase sempre é) Será que o bebê tá engordando? Será que eu vou aguentar pelo menos seis meses?

o desgaste físico

Ouvi outro dia uma mãe: “amamentação não é pra doer, mas dói e depois não dói mais”. E é isso mesmo. Mesmo com a pega perfeita (obrigada pela orientação, mãe e equipe da Perinatal) desde o início, eu sentia dor. Nada insuportável, mas bem incômoda.

No segundo dia de vida, Martin puxou meu mamilo esquerdo e machucou bem. Foram alguns dias sofridos, cada mamada significava vários minutos de dor e eu só torcia para terminar logo. Hoje já não dói mais e tiramos as mamadas de letra. Mas o desgaste físico continua.

Martin mama em quantidades industriais, de 2h30 em 2h30 em média. Isso significa que eu simplesmente não consigo comer o suficiente, se eu não estiver completamente atenta e concentrada na minha alimentação. Eu perdi muito peso muito rápido e mesmo que isso pareça positivo, não é: já fiquei doente 2x em 1 mês e meio.

a livre demanda

É preciso preparo físico e emocional para estar totalmente dedicada à livre demanda. Como bem me disseram uma vez, ela é “livre” apenas para o bebê. Pra mãe, é um full time job, sem férias, sem direitos trabalhistas, com muitas horas extras.
Por mais que a gente se concentre em não abrir mão da própria identidade e continuar sendo mulher-independente-cheia-de-autonomia, é muito difícil não abrir mão de si durante a livre demanda.

Repito: toda a minha empatia a quem não consegue amamentar, mesmo sem os problemas mais sérios da amamentação.

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