A maternidade é gigantesca. Quando ela chega, nos engole. Somos tragadas por esse amor imenso e caudaloso. Instintivamente, queremos estar todo o tempo perto da cria – alimentar, cheirar, beijar e acalentar. Uma ligação visceral. O peito que dói e vaza quando eles choram de fome. A aflição da primeira separação depois do nascimento, mesmo que por algumas horas.
Racionalmente, queremos aprender a ser uma boa mãe, errar menos, fazer o melhor. E saímos internet afora em busca de informação. Lemos tudo o que nos aparece pela frente, livros, relato de partos, folhetos no consultório do pediatra. E ainda assim a eterna sensação de que estamos falhando, fazendo de menos.
Eu fiquei mais forte depois da maternidade e não soube o que fazer com isso
Curioso, pois depois da maternidade, eu sentia que tinha mais coragem, era mais forte, mais amorosa e mais capaz. Ao mesmo tempo, não conseguia aplicar toda essa potência na minha própria vida. Eu sempre ficava para depois.
Para meu filho tudo, para mim, pouco, bem pouco.
E quando percebi, estava me escondendo atrás da maternidade. Usando meu filho como desculpa. Gastando mais tempo do que é necessário com afazeres da casa, com os cuidados com o filho. Não dividia, não delegava. Adiava planos e projetos pessoais.
Tem gente que faz isso como opção consciente, não como uma fuga. Não foi o meu caso. Eu me sentia uma mãe cada vez melhor a cada vez que abria mão de mim. E me sentia uma mulher cada vez pior quando me priorizava. Perdi a mão nesse equilíbrio. Comecei a achar que meus desejos não eram tão importantes, que minha realização deveria ficar em segundo plano. O que poderia ser mais nobre do que se dedicar a um filho? Nada.
Há trabalho 24 horas por dia na maternidade, sempre
Na maternidade, a gente tem sempre mais alguma coisa a aprender, mais alguma coisa a fazer. Há trabalho 24 horas por dia. Todos os dias, todas as mães têm motivos para ficar em função de um filho. Seja com 1 ou 10 anos. Sempre existe um caminhão de coisas para fazer.
O período da construção do ninho é importante, mas não pode ser eterno, pois mesmo que a gente “não permita”, os filhos crescem e precisam menos da gente. Passados os meses simbióticos, precisamos aprender a conviver com a gente mesma de novo. E eu não soube como fazer isso.
Tudo pode ser motivo para adiar planos. “Sinto muito, não tenho como pegar esse projeto incrível agora, meu filho precisa de mim”. Mas a verdade é que se eu me esforçasse, eu conseguiria pegar o projeto sim, e teria sido incrível. E meu filho se beneficiaria de um espaço em que eu não estivesse onipresente. Mas eu estava escondida no meu papel de mãe.
Ser mãe é a coisa mais importante da minha vida. Meu filho vai sempre ser minha prioridade. Mas é muito importante não se perder de vista muito tempo nessa imensidão que é a maternidade. Porque não existe nada pior do que se encontrar novamente no ressentimento, na frustração de uma vida que não nos satisfaz.
2 Comentários
Exatamente como eu me senti. Demorei quase 5 anos para entender que podia fazer outras coisas, e também ser mãe.
É tudo tão intenso e passa tão rápido que quando a gente se dá conta, foram anos sem pensar na gente mesmo… Mas sempre há tempo para se reencontrar. <3