A médica e mãe Catherine Bell encontrou uma nova hipótese para explicar a expectativa fora da realidade que muitas pessoas têm acerca do trabalho do médicos na Inglaterra, enquanto assistia desenho animado com seu filho. Em um artigo escrito para o British Medical Journal (BMJ), ela diz que a atuação do personagem Dr. Urso Marrom, médico da animação Peppa Pig, está contribuindo para criar uma imagem fora da realidade do papel do médico de família e incentivando o uso inapropriado do programa. (Aqui você pode entender um pouco como funciona o sistema de saúde pública na Inglaterra).
Em seu artigo, a Dra Bell dá exemplos que mostram que o Dr. Urso faz visitas clinicamente inapropriadas e ministra remédios desnecessários, o que está fazendo com que ele fique sobrecarregado e estressado.
Veja quais foram os três exemplos citados no artigo:
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Alergia
Um porquinho de 3 anos apresenta uma alergia. Os pais ligam para o Dr. Urso. Ele recomenda que coloquem o paciente de cama e se prontifica a fazer uma visita domiciliar. Depois de examinar a criança e dizer que não é “nada grave”, ele ministra um remédio, admitindo que só está fazendo isso porque foi pedido, uma vez que a alergia deve desaparecer independentemente de medicação.
Opinião da médica: Esse é um exemplo de prescrição desnecessária de remédio. Além disso, encoraja os pacientes a chamarem um médico sem necessidade.
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George fica resfriado
Os pais ligam para o Dr. Urso em um sábado, porque o filho deles estava com coriza depois de brincar na chuva sem capa. O médico resolve fazer uma visita domiciliar urgente. Depois de examinar a garganta de George, ele dá o diagnóstico de um infecção respiratória e recomenda cama e leite morno. Os sintomas melhoram em 12 horas.
Opinião da médica: No segundo exemplo, o médico atende fora do horário de trabalho e decide fazer uma visita domiciliar desnecessária.
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A tosse de Pedro
Um pônei de 3 anos tosse três vezes na creche. A professora liga para o Dr. Urso que decide ir imediatamente, com sirenes ligadas no carro e tudo. Ele examina o paciente, não faz um diagnóstico, administra um remédio e alerta que a tosse é transmissível.
Todos os colegas da creche e os pais ficam com tosse e tomam um remédio rosa. Em seguida, o próprio Dr. Urso apresenta os sintomas e seus pacientes vão até a clínica para dar remédio e cantar para ele.
Opinião da médica: No terceiro exemplo o médico apresenta sinais de burnout. Para ela, o fato dele não preservar a confidencialidade do paciente, não pedir consentimento aos pais, não registrar o histórico da consulta e se automedicar indica que a demanda dos pacientes está atingindo sua saúde.
Bem humorada, no final do artigo, Dra Bell diz que o Dr Urso foi procurado para dar sua perspectiva no caso, mas não pode comentar a respeito. Brincadeiras à parte, muitos médicos disseram se identificar com sua opinião.
“Nessa época incrivelmente difícil para a saúde pública, nós queremos encorajar os pacientes a pensarem com cuidado se eles precisam do serviço de um GP (médico de família) quando a criança está doente ou se eles podem cuidar sozinhos dela ou procurar a ajuda de um farmacêutico, que são altamente treinados para dar recomendações para pacientes com problemas menores”, disse a médica ao Telegraph.
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