A introdução alimentar é um dos momentos mais importantes e significativos na vida do bebê e da família. Pra mim, depois de seis meses de amamentação exclusiva em livre demanda, a IA parecia quase uma carta de alforria. Só que não foi bem assim.
Por mais absurdo que isso pareça, eu fui pega de surpresa pela necessidade de introdução alimentar. Quando eu “vi” faltava menos de uma semana para os (fatídicos) seis meses. Interna e externamente, rolou uma pressão para começar a apresentar os alimentos.
A família toda tinha, claro, uma lista imensa de sugestões. Dá fruta, não dá fruta. Bate tudo no liquidificador, só amassa com o garfo. Coloca carne, não coloca carne. In natura, cozido, assado. Eu, prontamente, interrompi a enxurrada de opiniões com um sonoro “Não, não, não. Aqui vai ser BLW.”
E perdi a conta de quantas vezes tive que explicar o que BLW era.
Você pode ler tudo sobre BLW nesse post aqui. Mas em resumo, o BLW é um método de introdução alimentar em que bebês são estimulados a alimentar a si mesmos e a estabelecer um ritmo para a própria alimentação. Jamais vou esquecer as expressões de choque que vi quando dizia esse textinho pronto e dizia: “é isso mesmo, nada de papinha!”.
E aí, eu dava exemplos e explicava os benefícios do método: o bebê tem contato com o alimento, conhece seu gosto, sua textura e a consistência. Há um estímulo à autonomia da criança e à relação íntima dela com o alimento. E você ainda garante que os alimentos mantenham todas as propriedades nutricionais importantes.
Eu amo a teoria do BLW, não posso negar. Mas com a chegada da hora de colocar em prática, eu percebi o “impensável”: não tinha me preparado o suficiente. Foi um tapa na minha autoestima e uma rasteira na autoconfiança. A verdade é que, de repente, o bebê tinha 5 meses e 25 dias e eu não sabia como fazer o tal do BLW para a introdução alimentar.
Eu sabia tooooda a teoria. E nada da prática.
Numa tentativa de me perdoar pela falha, eu lembrei a mim mesma o quanto era difícil (impossível) estudar qualquer coisa nos últimos meses. Já perdoada, tentei correr atrás do tempo perdido. Achei perfis (maravilhosos) do Instagram com muita informação, vídeos e o didatismo necessário para quem quer muito aplicar o BLW.
Desde esse ponto, eu comecei a me sentir meio sufocada. Era nítido que, para fazer dar certo, eu teria que dedicar bastante tempo e ter muita dedicação ao método de introdução alimentar. E eu sabia muito bem que para mim, que estava exausta e sobrevivendo, seria um esforço emocional enorme.
Mesmo assim, fui em frente. Coloquei uma banana em frente ao Martin (levando em conta tudo que eu tinha “aprendido”) e ele achou que era um brinquedo. No dia seguinte, um pedaço grande de brócolis e ele teve aflição com a textura, não quis. Depois, um pedaço de batata baroa e ele não teve o menor interesse.
Frustrada, cansada e com a sensação de que não estávamos fazendo nenhum progresso, eu desisti. Estava me sentindo perdida, muito confusa e, claro, sozinha porque o BLW era uma decisão minha sobre a introdução alimentar. Cedi à vozinha dentro de mim que gritava “dá logo uma papinha” e às vozes externas que achavam aquilo (o BLW) uma maluquice.
Amassei um pedaço de cenoura cozida, coloquei na colherzinha, ofereci e… ele comeu. E amou.
Era o fim do BLW aqui em casa.
Então, com seis meses e sete dias, estamos fazendo um método “inventado” por mim e que me trouxe segurança. Uma introdução alimentar que leva em conta muito do que é proposto pelo BLW. Tem comida de verdade, variedade de alimentos apresentados sem mistura, uma extensão da comida servida à mesa e tem a autonomia do bebê comer o quanto ele quer.
Mas não tem o bebê pegando nos alimentos com a mão, ou as comidinhas sem amassar. Não tem a paciência ou o tempo dedicado que o BLW requer. Infelizmente.
Eu não tenho saúde emocional para acrescentar mais várias funções no meu dia, mais vários detalhes para estar atenta, mais algo que eu precise me tornar especialista só para poder educar o pai e os avós. Dessa vez não vai dar.
imagem de capa Hal Gatewood on Unsplash
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