Eu não consigo fechar a mala da maternidade. Assim que eu falei essa frase, ela soou bastante ridícula. Eu deveria estar aliviada por tudo estar pronto, mas senti exatamente o oposto quando coloquei a última peça de roupa e comecei a fechar o zíper. Descobri que quem não estava pronta era eu.
Estou adiando arrumar a mala da maternidade faz tempo. Na verdade, essa gravidez toda foi um grande “deixa isso pra depois”. Foi planejada, desejada e festejada, mas eu quis guardar ela dentro de mim. Demorei muito para contar que estava grávida, não quis compartilhar fotos e só comecei a comprar coisas com quase 7 meses.
Tanta coisa mudou nesses últimos anos… E essa bebê foi se formando e crescendo na minha barriga à medida que eu crescia e mudava também. Ela é a concretização de que uma nova vida é possível, do jeito que se sonha. E junto a tudo isso, veio um misto de euforia e medo, pois é muito mais fácil sonhar do que viver.
Mas não tem como evitar, a realidade se impõe. Os nove meses chegaram e com eles a última tarefa da gravidez: arrumar a mala da maternidade.
Tenho tantas expectativas, medos e desejos e parece que tudo isso coube naquela mala tão pequena que muda de peso a cada manhã. Aquela mala no canto do quarto como arauto de uma sentença autorizando a minha filha a nascer: “vem, que agora não falta mais nada!”. A mala como um objeto mágico que vai me transportar novamente rumo ao desconhecido.
É muito mais fácil sonhar do que viver, porém é tão mais bonito e potente viver do que sonhar. Hoje de manhã tomei coragem e coloquei dentro da mala as meias que faltavam. E é isso, ela está finalmente pronta e fechada.
E quando nós duas estivermos prontas, quando nós decidirmos que é a hora, o pai da minha filha vai levantar a mala sem esforço algum, com uma mão apenas. Ele vai colocá-la no carro e ela vai voltar a ser apenas uma mala. Uma mala que pode ser esquecida, porque o essencial não está ali dentro. Nunca esteve.
++ leia também ++
O que levar na mala da maternidade
Imagens: Shutterstock
Sem Comentários