Quando as crianças começam a sonhar, é como se a vida ficasse mais colorida
Quando as crianças começam a sonhar é como se esse mundão se descortinasse pra elas. E pra gente.
Acho que uma das coisas que mais me comovem na humanidade é a nossa capacidade de sonhar.
Não estou falando de desejar coisas materiais, mas de sonhar um pouco existencialmente mesmo.
É fácil a gente perceber nossos próprios sonhos e desejos. Emagrecer, ter mais energia, ver um mundo melhor para nossos filhos e até ter mais tempo para fazer acontecer os próprios sonhos. A gente não para de desejar, nunca.
Inclusive um dos principais sintomas de que algo vai muito errado na nossa cabeça é quando perdemos a capacidade de querer algo melhor e mais pra bonito pra si e para o mundo. Essa desesperança é um dos principais sintomas da depressão.
É é uma coisa bem bonita de ver quando nossos filhos começam a desejar coisas. Não estou falando da nova boneca. Estou falando daqueles sonhos grandes mesmo.
Um dia a Vicky expressou um desejo tão lindo e emocionante que deixou todo mundo com lágrimas nos olhos. Estávamos na casa da minha mãe, em família, quando ela pega uma foto antiga e diz sonhadora: “sabe eu queria ter nascido antes só pra poder ter conhecido o biso”. Buenas, meu avô materno morreu quando eu tinha 5 anos, nem meu irmão caçula o conheceu. E ela continua: “eu sei que é impossível por que a mamãe era criança, mas acho que eu ia gostar demais do biso.” (Pausa pra secar a lágrima no canto do olho).
E, desde então, ela passou a expressar os mais variados desejos.
– Mãe, eu quero falar pelo menos 3 línguas. Você acha que eu consigo?
– Ia ser legal se não existisse nenhuma pessoa sofrendo no mundo, né?
– Queria conhecer todos os países do mundo enquanto eu ainda fosse criança
– Queria passar o ano inteiro viajando (ahaha sonho de nós duas!)
– Mãe, sabe, eu fico sonhando muito acordada, sabe? Tem dias que eu só quero mesma ganhar aquela boneca. Mas outros dias eu fico querendo coisas muito maiores, como ser cantora. Você acha que a minha voz é boa?
– Eu fico sonhando todo dia que eu vou acordar e vai ter um cachorrinho dormindo comigo na cama. Sabia que se eu tiver um cachorro eu não vou mais dormir com você?
E assim que ela começou a entender que era legal querer e desejar e sonhar com coisas tão pequenas como voltar naquele restaurante que ela adorou e coisas tão imensas quando a paz em todas as favelas cariocas, ela dispara a listar, todos os dias, tudo aquilo que vem na sua criativa cabecinha.
Crianças não têm limites na sua imaginação.
Ontem mesmo entabulamos uma conversa surreal sobre como seria a vida dela em Hogwarts, longe de mim, se aos 11 anos ela recebesse a carta da escola de magia. Que ela achava que ela era bruxa e tudo bem que eu não era. Algumas vezes as mães não eram, mas as filhas sim. Eu ri. E adorei que ela consegue sonhar nesse nível.
Acho que a gente não ensina ninguém a sonhar. É algo que está na gente. E o tamanho do seu sonho também.
A Vicky sabe o quanto ela é privilegiada. Que ela tem uma mãe que sonha e deseja na mesma intensidade. E por isso mesmo sonhos não têm limites e são absolutamente pessoais.
Ela sabe que alguns sonhos, como falar línguas, serão completamente incentivados por mim. Viajar muito também.
Ela sabe que alguns, os materiais, serão levados em consideração e muitos sumariamente descartados, por que a vibe aqui é outra.
Eu acho que sonhar é manivela. É força propulsora. É o que faz a gente seguir pela vida com o coração quentinho, almejando novos encontros e possibilidades.
Por isso prestem bem atenção quando suas crianças começarem a expressar desejos. Conversem, estimulem, queiram saber mais.
Quando a gente não tem nossos sonhos reprimidos, a gente voa mais longe.
imagens: unsplash.com
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