Almanaque da grávida descolada

Desejos de grávida

 

Todo mundo fala que grávidas têm os desejos mais absurdos do mundo. Já pesquei na sala de espera do consultório coisas como feijão queimado, vinagre balsâmico com shoyu e manga verde. Uma amiga pirou na geléia de mocotó (eca!). As pessoas não-grávidas (gente que nunca teve filho ou teve há muito, muito tempo e já perdeu as referências) esperam isso de você, é incrível. O pessoal do trabalho vez ou outra grudava em mim com o clássico “e aí? Já começaram os desejos muito loucos?”. Quando eu respondia que não, dava pra ver o brilho no olhar deles se apagando. Desculpa aí se eu não como batata frita com iogurte, viu?

Até achei que eu fosse uma grávida fora do padrão. Como assim, não ter desejo? Em todo filme, em toda novela, em qualquer representação de grávida tem uma louca acordando o marido implorando por uma bizarrice, tipo jaca com catchup e queijo brie. Demorou, mas aceitei. Respirei fundo, fiz meditação. Eu era uma grávida de outro planeta, que não tinha desejo nenhum. OK, tudo bem. E como a vida é cheia dessas loucurinhas, adivinha o que aconteceu.

Veio o meu desejo. O dito-cujo ocupou todos os espacinhos da minha cabeça e eu não conseguia pensar em outra coisa. Virou ideia fixa. Meu marido disse que fiquei com cara de maluca, dessas que escondem segredos capazes de incendiar o mundo. Fazer o quê? Eu não tinha culpa: desejo de grávida é assim, incontrolável. À noite, acordei o pai da criança e soltei o glorioso “amoooor, tô com desejo…”. Ele foi um lindo e já ia se levantando, pronto pra ir atrás de carne de javali e queijo das cabras caolhas da Antuérpia às duas da manhã.

Disse pra ele voltar para a cama. Meu desejo era diferente. Ele ficou feliz da vida e já foi tirando o pijama. Dei um abraço nele e disse que o meu desejo era que aquele feijãozico que estava na minha barriga, que não era menino, nem menina, que não tinha nome, nem cara, fosse alguém muito incrível. Que tivesse saúde, que curtisse ficar ali dentro até o fim da gravidez, que gostasse de música. Que pedisse para ouvir as histórias que a gente tinha pra contar e as outras que a gente inventaria juntos, os três. Que essa feijolinha fosse tão feliz quanto a gente quando soube que tinha um micronanomini alguém ali. Que tivesse paciência para receber o caminhão de amor e beijos que a gente tinha pra dar, porque era tão grande que nem cabia mais dentro da nossa casa.

Esse foi o único desejo que tive na gravidez. Nem bizarro, nem engraçado, nem louco. Verdadeiro.

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8 Comentários

  1. 16 de Maio de 2012 at 10:43 — Responder

    Que lindo texto. <3 Amei a narrativa e o seu desejo. =D

  2. Catarinamagna
    16 de Maio de 2012 at 10:52 — Responder

    Ai ai até emocionei!
    Bjo

  3. Gica
    8 de junho de 2012 at 16:37 — Responder

    obrigada, gente!

  4. Ana Paula Bastos Passos
    18 de Janeiro de 2013 at 11:39 — Responder

    Que delícia de texto! Parabéns!

  5. Marcela
    6 de setembro de 2013 at 15:31 — Responder

    Liiiiiiiiiiiiindo!!!!
    Eu tb não tenho desejos mirabolantes e quando falo isso para as pessoas elas me olham a ponto de falar: “Então não esta grávida!” Ainda tenho 3 meses pela frente, mas desejo o mesmo que vc!
    Parabéns pelo texto!
    Beijos!

  6. Débora Burato
    25 de novembro de 2013 at 16:15 — Responder

    Que coisa linda de ler… Tenho me sentido assim… Da nossa outra filha tive uns desejos simples mas dessa vez, ainda nenhum. Ainda restam 12 semanas pela frente e meu único desejo por enquanto é esse também! Que a nossa Júlia sinta o tamanho do nosso amor e nós saibamos mostrar para ela esse turbilhão de coisas novas que estão por vir!!!

  7. Camila
    12 de novembro de 2014 at 6:56 — Responder

    Minha filha vai se chamar Luna :3

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