Não é raro a gente ouvir que as mulheres já se sentem mães quando engravidam, enquanto os homens só se sentem pais depois que a criança nasce. (Em alguns casos, só depois que elas crescem um pouquinho). Repetimos essa ideia como se fosse parte da natureza de cada sexo, mas não é e não precisa ser assim. Além do que, é mais do que comprovado através de estudos, a importância e os benefícios do engajamento ativo dos homens durante toda a gestação de sua parceira.
A percepção que o planejamento da gravidez e os cuidados de saúde durante a gestação, o parto e puerpério são responsabilidade exclusiva das mulheres é só o início de uma mentalidade que faz recair sobre a mulher o peso dos cuidados com os filhos, além da falta de uma divisão equilibrada das tarefas domésticas. Se queremos de fato mudar as construções sociais de gênero, é preciso envolver os homens integralmente em tudo o que diz respeito à decisão de ter uma filho.
Pré-natal do Parceiro
Desde 2011 o Ministério da Saúde instituiu o programa de Pré-Natal do Parceiro. Ele faz parte da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que tem como objetivo facilitar e ampliar o acesso com qualidade da população masculina, na faixa etária dos 20 a 59 anos, às ações e aos serviços da assistência integral à saúde da Rede SUS. O PNAISH ressalta a importância da reflexão contínua sobre as construções sociais de gênero, numa tentativa de abolir papeis estereotipados que afastam os homens da saúde, do cuidado, do afeto e da construção de relações mais equitativas e humanizadas em suas parcerias sexuais e afetivas.
O Pré-Natal do Parceiro busca fortalecer os vínculos afetivos do pai com o filho que está sendo gerado, para que o homem assuma suas responsabilidades sociais e afetivas, e divida as responsabilidades no cuidado com a criança. Além disso, o programa tem como um dos principais objetivos ampliar o acesso e o acolhimento dos homens aos serviços e programas de saúde, para prevenir doenças e incentivar o autocuidado.
Infelizmente, a ideia do que é ser um homem de verdade ainda está ligada à negação de qualquer aspecto que pode ser visto com “feminino”. Nesse contexto estão incluídos o afeto e cuidado com os filhos e até o cuidado com a própria saúde. Uma das consequências desse comportamento é a exposição desnecessária à riscos de saúde, que se concretizam nas estatísticas: no Brasil, os homens vivem em média sete anos a menos do que as mulheres. Outra consequência é a desigualdade na divisão de tarefas no cuidado com as crianças e com a casa, deixando as mulheres sobrecarregadas.
Como funciona o pré-natal masculino?
Logo após a confirmação da gravidez e a vinculação da mulher no Pré-Natal do SUS, há um acolhimento do pai/parceiro. O profissional de saúde vai incentivá-lo a participar das consultas de pré-natal e das atividades educativas. Também serão solicitados testes rápidos e exames, e o cartão de vacina será atualizado.
O Guia do Pré-Natal do Parceiro para Profissionais de Saúde sugere que sejam solicitados os seguintes exames e procedimentos:
1. Tipagem sanguínea e Fator RH (no caso da mulher ter RH negativo);
2. Pesquisa de antígeno de superfície do vírus da Hepatite B (HBsAg);
3. Teste treponêmico e/ou não treponêmico para detecção de Sífilis por meio de tecnologia convencional ou rápida;
4. Pesquisa de Anticorpos anti-HIV;
5. Pesquisa de anticorpos do vírus da Hepatite C (anti-HCV);
6. Hemograma;
7. Lipidograma: dosagem de colesterol HDL, dosagem de colesterol LDL, dosagem de colesterol total, dosagem de triglicerídeos;
8. Dosagem de Glicose;
9. Eletroforese da hemoglobina (para detecção da doença falciforme)6 ;
10. Aferição de Pressão Arterial;
11. Verificação de Peso e cálculo de IMC (índice de Massa Corporal).
Durante o pré-Natal, o desejado é que se criem vínculos entre o os homens e profissionais de saúde. Para que haja esclarecimento de dúvidas e orientação sobre temas relevantes como atividade sexual, gestação, parto e puerpério, aleitamento materno, orientação de hábitos saudáveis, prevenção de violência doméstica, direitos etc.
O Pré-natal do Parceiro busca enfatizar que o momento da gestação e os cuidados posteriores com as crianças também devem ser aproveitados para valorizar modelos positivos de masculinidade pautados pela cooperação, pelo diálogo, pelo respeito, pelo cuidado, pela não violência e pelas relações entre gêneros que respeitem a diversidade, a pluralidade e a equidade como princípios básicos.
Saiba que:
O Governo Federal instituiu desde 2005 a Lei Federal nº 11.108/05 que garante o direito a um acompanhante de livre escolha da mulher durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.
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