Meninas negras não brincam com bonecas pretas
Foi a Barbie que carreguei até a minha adolescência
Porque não posso andar no estilo da minha raiz
Sempre riam do meu cabelo e do meu nariz
Esse é um trecho da música Falsa Abolição, da rapper Preta Rara. Uma das entrevistadas do documentário Parece comigo, de Kelly Cristina Spinelli, sobre a importância das crianças negras brincarem com bonecas negras. Lemos a respeito no site Hysteria e achamos importante divulgar por aqui também.
Preta Rara conta que a infância foi um dos momentos mais difíceis da sua vida: “No Brasil, 53% da população é de afrodescendentes. E a criança não se ver, não ter brinquedos que se pareçam com ela é muito grave.”
Ou seja, no Brasil a maioria das crianças é negra, mas a maioria das bonecas é branca. E isso é problemático para todas as crianças.
Hoje em dia já é até mais comum encontrar bonecas negras nas lojas de brinquedos, mas a diferença na oferta ainda é enorme, não sendo representativa de mais da metade da população brasileira. Observe as prateleiras de bonecas da próxima vez que for em uma loja de brinquedos.
Mais bonecas negras
O documentário entrevista bonequeiras que confeccionam bonecas negras na tentativa de mudar esse cenário e elevar a autoestima das crianças negras. Representatividade importa.
“Fazer as bonecas é uma forma de combater o racismo. Que eu atinjo as crianças. Nenhuma criança nasce com preconceito, depois que elas vão aprender a diferenciar. Por isso eu faço as minhas bonecas com o maior carinho, tentando atingir aquela criança que é reticente à raça”, explica a bonequeira Ana Fulô.
Boneca é um primeiro espelho para as crianças
Mestre em psicologia social, Clélia Prestes explica que a boneca funciona como um primeiro espelho para as crianças. Por isso a importância dela se reconhecer ali.
A comerciante Patricia dos Santos, mãe de Carolina, explica porque faz questão de comprar bonecas negras para a filha: “Eu sempre faço questão de trazer as bonecas negras pra dentro de casa porque a Carolina não se vê representada em uma revista, em uma novela, em um outdoor ou outro tipo de mídia assim. então a boneca é uma das formas que eu encontro para representar ela. Os livros também.”
Teste das bonecas
O documentário mostra cenas do teste das bonecas. Nesse teste, o pesquisador coloca duas bonecas, uma preta e uma branca, na frente de uma criança e faz algumas perguntas. Qual a boneca é a boneca boa? Qual boneca é a boneca má? Qual boneca é a boneca bonita? Por que ela é bonita? Qual a boneca é feia? Por que ela é feia?
Nas respostas, as crianças negras associam beleza e bondada às bonecas brancas e explicam que a boneca é feia porque é preta, enquanto a outra é bonita porque tem olhos azuis.
O teste das bonecas foi desenvolvido pelos psicólogos Kenneth e Mamie Clark nos anos 1940, época de segregação racial nos Estados Unidos, para demonstrar a interiorização do preconceito pelas crianças. Ele tem sido repetido diversas vezes desde então com resultados semelhantes em diferentes países.
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