Crianças e suco de frutas, o que existe de errado nessa relação?

O bafafá sobre o consumo de suco de frutas para crianças na internet continua e muitas mães estão em dúvida se podem ou não oferecer suco de frutas para seus filhos. A razão disso tudo? A quantidade de açúcar que as frutas oferecem e o aumento dos casos de diabetes e obesidade.

Sou nutricionista e acredito que os radicalismos nunca nos levam a nenhum caminho bom ou duradouro. “Não pode comer glúten”, “Tira a lactose”, até fórmula caseira de substituto do leite materno com base na dieta paleo já inventaram (e que estão provando ser danosa à saúde dos bebês). Sendo assim, gostaria que você soubesse que não sou uma defensora do “suco não” ou do “suco sim”, acredito que o problema esteja na forma em que oferecemos esse suco, na forma como nos relacionamos com o que comemos e bebemos. Os estudos (americanos) mostram que os pais estão substituindo a água por suco de caixinha – que na maioria das vezes não é suco, como já mostramos aqui e vem cheinho de açúcar, corantes e outros antes que fazem mal.

Para tentar diminuir o alarde em torno da questão, fiz uma listinha do que eu acho que você precisa saber sobre o suco de frutas natural.

 

1) Quantidade de açúcar – o açúcar oferecido –frutose – é o natural da fruta e sim, o consumo exagerado (acima de 200ml/dia) pode levar ao ganho de peso e a diabetes do tipo 2 na vida adulta.  Particularmente, acho válido o uso do suco de frutas principalmente na transição do leite materno para outros alimentos: oferecer um novo sabor, uma nova temperatura mas na mesma consistência – líquida.

O que a Academia Americana de Pediatria recomenda:

  • Até 1 ano de idade: não oferecer suco de frutas
  • 1 a 6 anos de idade: consumo de 120 a 180 ml/dia de suco de frutas
  • 7 a 12 anos de idade: consumo de 230 a 350 ml/dia de suco de frutas

O que a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda:

  • 6 meses até 1 ano de idade: evitar, mas se forem oferecidos, o consumo deve ser no máximo 100 ml/dia de suco de frutas
  • 1 a 2 anos de idade: consumo de 100 ml/dia de suco de frutas
  • 2 a 6 anos de idade: consumo de 150 ml/dia de suco de frutas
  • acima de 6 anos de idade: consumo de 240 ml/dia de suco de frutas

 

2) Perda de fibras e outros nutrientes – O suco de frutas é muito menos rico nutricionalmente do que a fruta in natura – a maioria das frutas e vegetais crus é muito mais rica do que sua versão processada, mesmo que caseira. Uma alimentação balanceada visa oferecer ao longo do dia (todos os dias) uma alimentação saudável, sendo assim, as frutas não são as únicas e nem as principais fontes de fibras e minerais na alimentação do ser humano (Amém!).

 

3) Praticidade – Os sucos de caixinha, tal qual a comida congelada, vieram para “libertar” uma nação de pais oferecendo mais rapidez e agilidade ao dia-a-dia. Acreditou-se que eram saudáveis e mesmo os que são só fruta (mesmo que pasteurizada) têm tido seu consumo aumentado por um abuso dessa facilidade. Adultos e crianças se esqueceram de como é gostoso um copo de água fresquinha. O preço alto de não ler rótulos é a falta real de frutas, o excesso de aditivos químicos e, em alguns casos, compra-se compra gato por lebre, como já mostramos aqui na matéria sobre a diferença entre suco de frutas 100%, néctar e refresco. Leia rótulos e saiba quando oferecer sucos sem prejudicar a sua saúde e a dos pequenos.

 

4) Risco de obesidade e diabetes – Sucos e refrigerantes têm sido objeto de estudo já há algum tempo em adultos. Atribui-se o aumento do índice de obesidade e diabetes do tipo 2 ao consumo aumentado, cerca de  800 a 1,200 calorias a mais no dia, provenientes de sucos e bebidas adoçadas. Diante desse fato, o que pode ser feito para não cair nessa armadilha e colher um futuro mais saudável para nossas famílias? Um recente estudo mostra que a  ingestão por crianças de até 180 ml de suco (natural sem aditivos) por dia não causa ganho de peso. Em adição a esse fato, o mesmo estudo mostra que os sucos mistos ou uma variação nos sabores das frutas escolhidos para fazer os sucos, oferece uma maior quantidade de vitaminas e minerais. Dependendo da escolha de frutas que você faça (laranja, tangerina, maçã, melancia, frutas vermelhas, etc.), as crianças vão ingerir mais ferro, ácido fólico, vitaminas C e B6, além de potássio e magnésio.

 

Importante saber:

laranja_shutterstock

 

  • Água deve ser a bebida de escolha de qualquer pessoa e não somente das crianças.
  • Alguns profissionais de saúde chegam a sugerir que ingerir refrigerantes é melhor (ou menos pior) do que oferecer suco. A preocupação é a quantidade de calorias ofertada em um copo de suco. Como mãe e nutricionista, prefiro oferecer suco e reduzir o consumo de outros alimentos do que oferecer refrigerante diet ao meu filho.
  • Se o seu filho está acima do peso ou você tem dúvida se está oferecendo uma alimentação saudável e compatível com às necessidades do seu filho, consulte um nutricionista. A análise do que ele deve comer e qual a quantidade é mais importante do que você possa imaginar.
  • Existem casos de enxaqueca e alergia em adultos desencadeados pela ingestão de cítricos. Alguns médicos orientam que a introdução do suco de laranja ou de sucos cítricos só se dê só após o 1 ano de idade.
  • Crianças acima de 1 ano de idade devem consumir de três a quatro porções de frutas por dia.
  • O suco de frutas não deve nunca substituir o consumo da fruta em si e muito menos uma refeição.

 

Para se ter boa saúde é preciso entender que os vilões da alimentação estão nos hábitos cultivados. Assim, o Ministério da Saúde/Organização Pan-Americana da Saúde (MS/OPAS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria estabeleceram, para crianças menores de 2 anos, dez passos para a alimentação saudável:

Passo 1 – Dar somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou quaisquer outros alimentos.

Passo 2 – A partir dos 6 meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo-se o leite materno até os 2 anos de idade ou mais.

Passo 3 – Após os 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia se a criança receber leite materno e cinco vezes ao dia se estiver desmamada.

Passo 4 – A alimentação complementar deverá ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança.

Passo 5 – A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família.

Passo 6 – Oferecer à criança diferentes alimentos todos os dia. Uma alimentação variada é, também, uma alimentação colorida.

Passo 7 – Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições.

Passo 8 – Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação.

Passo 9 – Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir armazenamento e conservação adequados.

Passo 10 – Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo a alimentação habitual e seus alimentos preferidos e respeitando sua aceitação.

 

Crédito das imagens: Shutterstock

 

 

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