Uma vez, quando a Agatha tinha seis meses de vida – atualmente, ela está com um ano e dois meses –, estávamos no supermercado e ela foi ficando cada vez mais chorosa e irritada no carrinho dela. Não tive dúvida: peguei-a no colo e fui empurrando o carrinho vazio, enquanto o Augusto pilotava o carrinho de compras.
Vale contextualizar: moramos em Nova Petrópolis, na serra gaúcha, e precisamos ir a Caxias do Sul pelo menos uma vez por mês para fazer compras maiores e mais específicas, porque é na cidade vizinha que ficam os supermercados grandes. Isso significa que Agatha estava “presa” havia pelo menos duas horas quando começou a fazer barulho (uma hora de viagem de carro no bebê conforto + uma hora circulando dentro do carrinho pelo mercado, já que estávamos mais ou menos na metade das compras).
Enfim, cena super corriqueira, né? Quando o bebê fica cansado, fazemos qualquer coisa para providenciar-lhe conforto. É instintivo. Só que ali, no centro da situação, me dei conta de que havia passado uma vida inteira julgando mães e pais quando via cenas exatamente iguais àquela. Lembrei de ter pensado dezenas de vezes algo como “Aaaah, por favor, carrinho vazio e bebê no colo? Coloca esse bebê nesse carrinho e pronto, pode andar mais à vontade!”.
E logo imaginei que alguém ali naquele supermercado provavelmente estava me julgando. Ah, as voltas que o mundo dá…
A gente aprende muito e todos os dias com a maternidade, mas repito sempre: se tem uma coisa principal que a maternidade me ensinou, foi a não julgar as outras mães.
Depois que me tornei mãe, aprendi a não julgar…
… mães que voltam da licença-maternidade e deixam os filhos na creche em período integral
“Nossa, tão pequenininho, como ela consegue?” Entendi que, muitas vezes, ela não consegue completamente. O corpo e a mente estão no trabalho, mas o coração está na creche. Eu posso trabalhar em casa (na parte de jornalismo) e, quando faço atendimentos fora (sou consultora de amamentação e coach de gestantes e de mães), levar a Agatha junto. Muitas e muitas mães precisam estar fisicamente o dia todo no trabalho para garantir o dinheiro que vai entrar em casa. Cada uma encontra a melhor solução para si.
… mães que fazem cesárea
Eu achava que toda mulher conseguia parir com a tranquilidade das fadas e que as que não o faziam optavam pela cesárea por comodismo. Mas, ao estudar para ser coach de gestantes e de mães, conheci casos em que, na última hora e mesmo com obstetras humanizados e responsáveis, o parto normal não foi possível. Falta de dilatação e de tempo para forçá-la com medicamentos, diminuição dos batimentos cardíacos do bebê durante as contrações e muitos outros fatores. Entendi que o melhor parto é o parto possível e seguro para mãe e bebê. E que nenhuma mulher é mais ou menos mãe por causa do tipo de parto que teve.
… mães que têm dificuldade para amamentar
Como no caso dos partos, eu achava que amamentar fosse uma tarefa para a qual todas as mulheres estivessem preparadas e ponto final. Mas a prática me mostrou que amamentar é maravilhoso – Agatha mama até hoje e mamará enquanto quiser –, mas trabalhoooooso. O começo pode ser traumático (eu fiquei com os bicos dos seios sangrando por dois dias), assim como os picos de crescimento e saltos de desenvolvimento (em que o bebê resolve não querer mamar em um dos seios, berra sem motivo aparente no meio da mamada, se joga para a frente, para trás e para os lados…). Precisa ter um apoio muito grande e muito forte para não deixar o estresse dominar e acabar desistindo. Se não fosse o Augusto ao meu lado, não sei como teria sido para mim. As dificuldades são tão naturais quanto a própria amamentação.
… mães e pais que apelam para as comidas congeladas
Aqui em casa, somos adeptos da alimentação orgânica (não somos vegetarianos, muita gente faz confusão). Toda vez que eu passava no corredor de comidas congeladas no supermercado pensava “Coisa de gente preguiçosa, credo!”. Daí a Agatha nasceu e não tínhamos tempo para preparar refeições orgânicas. Ou refeições, como um todo. Respirei fundo e sugeri ao Augusto: “Vamos de comida congelada enquanto estiver corrido assim?”. E fomos. Nos dois primeiros meses de vida da Agatha, as comidas prontas nos salvaram. Aos poucos nos organizamos e voltamos a fazer nossas comidas. E nunca mais olhei torto para quem, com um bebê ao lado, pega caixas e caixas de comida congelada no mercado.
… mães que não fazem as unhas
Essa é tão patética da minha parte que dá vergonha só de lembrar. Quando eu era solteira, uma moça do prédio teve bebê e nunca mais estava com as unhas feitas. Comentei com minha mãe e ouvi: “Filha, um bebê dá muito trabalho. Fazer unhas fica em milésimo plano”. Eu, que “sabia tudo”, retruquei: “Mas uma hora o bebê dorme, é só aproveitar e fazer as unhas”. Ah, só isso, Raquel-que-não-é-mãe-ainda? Como ninguém avisou às mães? Bom, cá estou escrevendo este texto sem esmalte nas unhas. Na semana passada eu estava com as unhas feitas. Nas semanas anteriores, não. Desde que a Agatha nasceu, devo ter feito as unhas menos de dez vezes. Hoje tenho vontade de abraçar a moça do ex-prédio retroativamente.
Infelizmente, ainda há muitas mães que julgam outras mães, fazem comparações injustas, desmerecem essa ou aquela decisão por serem diferentes das delas. E o grande ponto é que ninguém vive a vida da outra pessoa para poder julgar as atitudes dela. E nós, mães, precisamos nos apoiar sempre e cada vez mais. Sem julgamentos. Só empatia.
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