Cama compartilhada é o tipo do assunto que provoca discussões calorosas entre as famílias. Há quem ame e quem odeie. Poucas são as pessoas que não têm uma posição clara sobre o assunto, mas a maioria delas não sabe exatamente os benefícios e malefícios dessa decisão.
Aqui em casa a cama compartilhada simplesmente aconteceu. Na minha cabeça de mãe de primeira viagem, Victoria ia dormir ao meu lado nos três primeiros meses e depois iria dormir no lindo quartinho dela. Ainda grávida comprei um bonito berço, babá eletrônica com vídeo e todos os acessórios.
No início ela dormiu no carrinho dela, ao meu lado. Era o lugar onde ela se sentia mais confortável. Eu, que ainda não conhecia nenhuma teoria sobre cama compartilhada, ficava com medo de dormir com ela, recém-nascida na minha cama.
Mas o tempo passou, o quarto dela ainda não tinha ar-condicionado, a gente não conseguiu resolver o problema a tempo (história compridaaaa) e o verão carioca chegou com tudo. Ela tinha quatro meses e estava habituadíssima a dormir no nosso quarto. Transformamos o cercadinho num berço pra lá de confortável, com colchão e tudo, e ela continuou no nosso quarto.
Na medida em que foi crescendo, ela começou a achar o cercadinho dela muito solitário. Passou pra nossa cama e de lá nunca mais saiu. Ainda tentamos durante um tempo colocá-la no próprio berço, mas ela acordava tantas vezes de madrugada que a situação ficou insustentável. Mantivemos desse jeito até ela completar dois anos e meio. E, se você já é nosso leitor desde sempre, sabe que a criatura não dormia e nós estávamos vivendo uma situação limite.
Aí veio a minha separação. Ficamos agarradas um bom tempo, precisando uma da outra. Como por encanto ela passou a dormir a noite toda. A vida começou a entrar no eixo, mas ela dizia pra mim que ODIAVA dormir sozinha. Nessa época o berço do quarto já tinha virado uma caminha, que continuava desabitada. Eu nem tentava mais. Com o tempo, renovando os ares de casa, troquei o berço/cama por uma cama bem mais bacanuda, mas jamais tive sucesso. Ela continua odiando dormir sozinha e mesmo que ela esteja com a babá, se eu tiver em casa, é comigo que ela dorme.
Hoje ela tem três anos e onze meses. O aniversário de quatro aninhos está chegando, mas não prevejo nenhuma mudança. Na casa do pai ela dorme agarrada nele. Na casa da minha mãe, ela dorme agarrada nela. E se eu estiver fora de casa, ela dorme agarrada na babá.
O que isso significou pra mim? Não sei bem. O sono da Victoria sempre foi algo complexo aqui em casa. Ela é sempre tão madura, articulada e independente, mas na hora de dormir rola uma insegurança muito grande, muitas manias (uma orelha pra coçar, uma chupeta que não larga) e, embora esteja interessada no desfralde noturno, ainda faz xixi na cama 4 entre 7 noites da semana, pelo menos.
De verdade (não me julguem), acho que eu queria que ela tivesse escolhido a cama dela. Consigo entender a personalidade dela e o porquê dela precisa compartilhar a cama comigo, mas, enquanto casada, senti falta da privacidade do casal (não tanto pra sexo – afinal a casa é grande), mas pra conversar, viver momentos de casal, conversas no pé do ouvido etc. Era um casamento em crise e eu ansiava por aqueles momentos. Depois, já sozinha, senti falta da minha privacidade. Crianças ocupam uma casa toda. Para o bem e para o mal. Eu gosto de um pouco de solidão. E sou uma pessoa “de quarto”. Não me importo muito em dividir a minha estante da sala com os livros e brinquedos dela. Não me importo de ter meu escritório invadido pelos brinquedos que ela só pode brincar sob supervisão. Não me importo de ter um tapete da Sininho adornando o nosso único banheiro e de ter meus shampoos importados lavando o cabelo da Barbie. Mas meu quarto… Esse sim, eu queria livre do Teddy (ursinho que dorme com a gente), do DVD da Frozen e de xixi quase que diário nos meus lençóis novos.
Mas tudo passa mais rápido do que a gente gostaria e ela está crescendo. Lembro bem do dia em que postei aqui no Mundo Ovo a festinha Piquenique de um ano e me angustia um pouco que, em algumas semanas, estarei postando a festinha da Peppa Pig de quatro anos. Sendo assim tomei a decisão de não forçar qualquer barra até ela estar pronta pra migrar pro próprio quarto. E eu passei a aproveitar bastante o meu latifúndio e meus lençóis cheirosos nos dias em que ela dorme no pai.
Ah! Se você achou que eu ia execrar ou defender com unhas e dentes a cama compartilhada, desculpa ter te desapontado. Para você não achar que perdeu tempo lendo a minha experiência de cama compartilhada às avessas, recomendo fortemente que você leia o blog Paizinho Vírgula!, do Thiago Queiroz. Para mim, o Thiago é uma das pessoas que mais difundem a Criação com Apego aqui no Brasil e ele merece a sua atenção. Esse post aqui só rolou porque eu li sobre cama compartilhada no blog dele e adorei o tema.
Imagem: Baby Delight